terça-feira, junho 01, 2010

Educação em Debate

De dez docentes, dois atuam em mais de uma escola

A necessidade de trabalhar em muitos colégios para complementar renda não é realidade da maioria, revela Censo Escolar

Priscilla Borges, iG Brasília | 31/05/2010 08:00

Uma das grandes dificuldades apontadas por educadores de todo o País na carreira é o salário pago à carreira. Não são as raras as afirmações de que, para complementar a renda familiar, os docentes têm de trabalhar em mais de uma escola. Os dados do Censo Escolar revelam que, na verdade, essa é a realidade vivida por 23% deles.

Ainda em 2007, ano em que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela coleta dos dados do censo, mudou as metodologias utilizadas para traçar melhor o perfil do professor brasileiro, o mito de que grande parte dos educadores do País tinha de se submeter a essa realidade foi quebrado. À época, 80,9% dos professores trabalhavam em apenas um colégio.

Os números mais recentes do Inep mostram que a quantidade de profissionais que precisam circular entre duas escolas ou mais para dar aulas aumentou. Dos 23% que enfrentam essa rotina, 365.417 trabalham em duas escolas. Outros 62.985 atuam em três. E há mais 18.957 que se dividem entre quatro escolas ou mais.

Os dados também apontam para a intensidade do trabalho docente. Na educação infantil e nas primeiras séries do ensino fundamental, um único professor é responsável por acompanhar a mesma turma durante todo o turno escolar (exceto em atividades específicas, como educação artística e educação física, por exemplo). Há mais de 750 mil educadores com uma turma de alunos.

No entanto, na pré-escola ou nas séries iniciais do fundamental, há docentes dividindo-se em mais de uma turma. Na pré-escola, 47 mil dos 258 mil professores da etapa trabalham com mais de duas turmas. Nessa fase, há cerca de 19 alunos por turma. Nas primeiras séries do ensino fundamental, 237.464 professores têm mais de duas turmas de alunos e representam um terço dos profissionais que dão aulas nessa fase. Os dados mostram que cada sala de aula nessa etapa possui 25 alunos. As salas ficam mais numerosas nas séries finais do ensino fundamental (29 por turma) e no ensino médio (33).

Perfil
Os dados do Censo Escolar 2009 revelam que a maioria dos professores brasileiros são mulheres, têm até 40 anos de idade e se consideram brancos. As mulheres representam 81,5% dos docentes brasileiros, um total de 1,6 milhões de pessoas. Na educação infantil, os homens são ainda mais raros: 3% dos quase 370 mil educadores.

A cada etapa de ensino, no entanto, eles vão se tornando mais presentes. Nas séries iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano), 91% do universo docente é de mulheres. Nas séries finais, a presença feminina cai para 73,4%, e, no ensino médio, para 64%.

A declaração de raça não é encarada com naturalidade pelos docentes das escolas brasileiras. Do total de 1.977.978 professores, 750.974 (38%) não declararam cor ou raça. A maioria dos que o fizeram (758.511) se enxerga como branco. Os pretos representam apenas 2,9% dos docentes e os pardos, 18%. Os indígenas são apenas 0,4% do quadro de educadores do País.

Em relação à idade, o censo revela que a maioria (58%) tem até 40 anos. Os muito jovens (até 24 anos), que possuem menos experiência profissional, são a minoria: 116 mil docentes. A faixa etária que concentra o maior número de profissionais está entre 41 e 50 anos. Um estudo do Inep ainda mostra que, na rede privada, a concentração de jovens é maior. Na rede pública, os professores mais velhos dão aulas para as séries mais avançadas da educação básica.

Aliança propõe combate à pobreza e nova educação pela paz

31/05/2010

JANAÍNA MICHALSKI

Aproximadamente 7.000 integrantes de mais de cem delegações encerraram neste fim de semana o Fórum da Aliança das Civilizações da ONU, no Rio de Janeiro, apontando como caminhos para a paz mundial o fortalecimento do combate à pobreza e de um modelo humanitário de educação.

Para a embaixadora Vera Machado, subsecretária de assuntos políticos do Itamaraty, o combate à pobreza deve estar no centro do trabalho pela paz mundial. Ela acentuou a importância de que a comunidade internacional apóie continuamente projetos de impacto sistêmico em regiões historicamente menos favorecidas, como o Haiti, e observou que a pobreza alimenta o extremismo.

“A insegurança econômica pode conduzir facilmente ao racismo, à xenofobia e ao fanatismo. O desemprego, a desigualdade e a fome alimentam o extremismo”.

Os participantes nacionais e internacionais do fórum concordaram que o fim da guerra entre os países começa pelo reconhecimento das diferenças, aprendido na escola. O conflito entre culturas, como os estresses causados pela imigração na Europa, teriam sua solução na educação. Por esse entendimento, os integrantes da Aliança de Civilizações propõem esforços para a conscientização de professores e a confecção de material didático que encoraje a aproximação entre nações.

Segundo Irina Bokova, diretora-geral da Unesco, “temos que educar as crianças para serem cidadãos interculturais do planeta e assim compreenderem melhor uns dos outros”. Irina Bokova disse que a principal preocupação da organização é integrar um sistema de educação humanitária que não apenas atinja as minorias em áreas remotas, mas que atenda às especificidades dessas minorias. Um exemplo seria a reeducação do olhar sobre as mulheres, que sofrem variados tipos de opressão em todo o mundo.

“Esse terceiro fórum reforçou a dimensão global da aliança, não esquecendo os problemas que causaram a sua criação, mas alargando o entendimento sobre questões pontuais”, concluiu Jorge Sampaio, ex-presidente de Portugal e alto representante para a Aliança de Civilizações. Para ele, os povos têm que se entender, mas isso não basta.

“É preciso haver soluções políticas, evolução econômica, fim da crise financeira e ações sérias para a diminuição da fome”.

Senador Cristovam Buarque (PDT-DF): “O que vai mudar o mundo é escola igual para todos”

31/05/2010

O 3º Fórum Mundial de Aliança de Civilizações foi marcado, de um lado, por repercussões e posicionamentos diante do acordo nuclear negociado por Brasil e Turquia com o Irã e, por outro lado, pela necessidade de se usar a Educação como ferramenta principal para a paz mundial.

Durante uma das principais plenárias do Fórum – ‘Educação para uma cidadania intercultural’ – autoridades mundiais em educação mostraram suas ideias sobre ações práticas para um ‘Novo Humanismo’. Representante do Brasil, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse que “o humanismo virá de um programa mundial para a educação, porque a escola não é apenas uma ponte, mas o ponto de encontro das civilizações”.

Cristovam falou à repórter Janaína Michalski, de Brasília Confidencial.

Brasília Confidencial – O senhor elogiou o presidente Lula pela iniciativa de acordo com o Irã. Por quê?

Cristovam Buarque – Por duas razões. Primeiro porque é uma iniciativa pela paz. Ninguém pode ficar contra uma iniciativa pela paz. A voz deles diz: ‘não se confia no Irã’. Sabemos que não se pode confiar no Irã nem em nenhum outro país, porque os países mudam de governo. A Alemanha de hoje era a de Hitler há 60 anos. O Iraque, no qual os Estados Unidos confiavam plenamente, virou Iraque inimigo com o Saddam Hussein. O Irã de hoje já foi o querido dos Estados Unidos na época do Xá. Então, concordamos que não se pode confiar em nenhum país. Mas o que o Lula conseguiu foi, sem dúvida alguma, um passo pela paz: não se confia no Irã, então peça salva-guardas, garantias, fiscalizações.

BC - E a segunda razão?

Cristovam – É a mais importante. É que a Turquia e o Brasil juntos quebraram o monopólio dos países centrais para definirem o desenho do mundo. Pela primeira vez naquele local, na Ásia Central – onde há 200 anos as grandes potências fazem o que se chama de ‘o grande jogo’ -, países de fora do núcleo central conseguem interferir. O Brasil deu esse passo junto com a Turquia, isso é um novo momento. O importante não é a não-proliferação de armas nucleares, mas a proliferação de poder entre as nações. É um empoderamento dos países emergentes Turquia e Brasil. Outros virão: África do Sul, Índia. Há um movimento mundial pelo multilateralismo. A partir do momento que esses países ganharem força, irão discutir o que fazem com as patentes tecnológicas, com a água, com as diferentes fontes de energia.

BC – O que é o Novo Humanismo?

Cristovam – A UNESCO diz que precisamos de uma nova concepção para a humanidade. Uma nova ordem internacional, de perspectiva humanista. Porque o socialismo e o capitalismo, como dois lados da mesma moeda, são duas visões da mesma civilização industrial. Uma civilização que está fracassando porque provoca o aquecimento global, provoca uma divisão tão grande entre os seres humanos que daqui a pouco pobres e ricos não mais se sentirão semelhantes – porque uns vão viver mais e outros menos – e provoca a destruição de culturas. Então há necessidade de um novo momento: de respeito à diversidade cultural e à sustentabilidade ecológica. E a meu ver, o Novo Humanismo é o Educacionismo, a ideia de o que vai mudar o mundo é a escola igual para todos, como já é nos países nórdicos.

BC – Que avanços o senhor destaca, nos últimos oito anos, na área da Educação?

Cristovam – O Lula foi um dos melhores presidentes que o Brasil já teve. Na educação, fez avanços, principalmente, nas escolas técnicas e nas universidades, onde o Prouni foi um sucesso. Na educação básica, criou-se o piso salarial e transformou-se o Fundef em Fundeb, o que ampliou significativamente os recursos para a área. Mas acredito que ainda há muito que avançar. O Brasil ainda não tem escola igual para todo mundo: o filho do mais pobre na mesma escola que o filho do mais rico. Para mim, essa é a maior revolução que se pode fazer.

Um comentário:

  1. Educadores e Educadoras

    Para pensar uma decada da educação, um país moderno e justo, precisamos pensar a educação com qualidade para todos e com condiçoes de trabalho dignas para os profissionais de educação e condiçoes de aprendizagem aos cidadãos educandos.

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